Related Posts with Thumbnails
RSS

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

As melhores declarações de amor (Cap. X).

As melhores declarações de amor, certamente, devem ser as reais. Essas que são inspiradas pelo sentimento mais puro e verdadeiro – pelo menos no momento de sua feitura – e destinadas a conquistar o coração que bate fora do papel.

Sabendo disso, escolhi, entre tantas cartas de amor, uma que Graciliano Ramos (aquele mesmo do Vidas Secas, Infância, Memórias do Cárcere, etc.) escreveu à sua noiva, Heloisa Medeiros. Essa que veio a ser sua segunda esposa e com qual viveu até o fim de seus dias.


Palmeira, 18 de janeiro de 1928.

Heloisa: mandei-lhe uma carta pelo último correio, e já a necessidade de falar novamente contigo. Se pudesse, empregaria todo o tempo em escrever-te, só para ter o prazer de receber respostas. Tenho tanto que te dizer... Nem sei por onde começar, fico indeciso, com a pena suspensa, vendo interiormente esses olhos que me endoideceram quando os vi pela primeira vez. Muitas coisas para dizer-te, mas coisas que só se dizem em silêncio e que talvez compreendas, se houver afinidade entre nós.
Santo Deus! Como isto é pedantismo! Eu desejava ser simples, dizer-te ingenuamente o que sinto e o que penso. Mas sentimento e pensamento, indisciplinados, não se deixam agarrar. Vou jogar o que me vier à cabeça, à toa, sem ordem.
É verdade que és minha noiva? Não é possível, sei perfeitamente que tudo isto é um sonho, que vou acordar, que ainda estamos em princípio de dezembro, que tu não tens existência real. Esta carta nunca te chegará às mãos, porque não tens mãos, és uma criatura imaginária. A flor que me deste e que agora vejo, murcha, é simplesmente um defeito dos meus nervos. Beijando-a, tenho a impressão de beijar o vácuo. Já tiveste em sonho a consciência de estar sonhando? É assim que me acho. Vem para junto de mim e acorda-me.
Causaste uma perturbação terrível no espírito dum pobre homem que nunca te fez mal nenhum. Isto com certeza te dará alegria, porque todas vocês gostam de rasgar o coração da gente. Com esses modos românticos, esse rosto de santa que desce ao altar, és uma fera. Vieste chamar-me para passar quinze dias a fio cercado de saias. E quando me tens seguro: “Ora, meu caro senhor, deixe-se de histórias. Tudo foi pilhéria, não houve nada.”
Depois, uma reviravolta, estamos noivos. Ou não estamos? Ainda será engano meu?
Amo-te com ternura, com saudade, com indignação e com ódio. Confesso-te honestamente o que sou. Se te não agradam sentimentos tão excessivos, mata-me. Mas não me mates logo: mata-me devagar, deitando veneno no que me escreveres. Provavelmente sabes fazê-lo. Não devia ser como és.
Estou a atormentar-te, meu amor. Perdoa. Se não fosses como és, eu não gostaria de ti.
És uma extraordinária quantidade de mulheres. Quando me vieste pedir não sei que para o Natal, eras uma. Depois, em um só dia, ficaste duas, muito diferente da primeira. Desejei ver qualquer das três e levei à casa do padre um bacharel que vendia livros. Apareceu-me outra. Daí por diante o número cresceu, cresceu assustadoramente. Na sexta-feira, antevéspera de tua partida, encontrei pelo menos vinte. No sábado, em nossa casa, havia uma na sala, outra na sala de jantar, dez ou doze ao pé da janela. És multidão.
Como me poderei casar com tantas mulheres? O pior é que todas me agradam, não posso escolher.
Por que não te deixaste ficar mais uma semana? Por que não ficaste definitivamente? Tenho recebido parabéns pelo meu novo estado, há quem suponha que me casei contigo. Era o que deveríamos ter feito. Tudo tão fácil! E agora? Quanto tempo é necessário esperar ainda? Conheces algum padre que me possa casar sem confissão? Não estou disposto a ajoelhar-me aos pés de ninguém. Mentira: estou disposto a ajoelhar-me aos teus pés, a adorar-te.
Tenho o pressentimento de que te arrependeste do que fizeste. Estás arrependida? Se estás, sê misericordiosa, não mo digas agora.
Quando me escreveres, diz-me com singeleza o que há em teu coração... contanto que não sejam coisas desagradáveis.
Adeus, meu amor. (...) Beijo-te as mãos.

Teu Graciliano.

Créditos:

* Foto de Graciliano e Heloisa Ramos em 1948 - Disponível em: http://www.graciliano.com.br/index.html

* Imagem da capa - Disponível em: http://www.skoob.com.br/livro/sobre/25264

* Texto digitado pelos dedos indicadores dessa senhorita - Retirado de:
ORSINI
, Elizabeth (org). Cartas do coração: Uma antologia do amor. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 26-28.

É isso! Querem conhecer outras cartas desse livro? Estou saboreando-o devagar, tal qual chocolate... mas já posso dizer que há várias cartas que poderiam fazer parte dessa série.

Bjo! Até o próximo livro com coração...

6 corações despertados:

Rafaela disse...

Que lindoooooooo!!!!!!!!
*suspiros*
Mega romântico!
Tá de parabéns amiga pela escolha! ^^
Bjs

Talita disse...

que lindo, ameeeeei! *_*

La Sorcière disse...

Camilla, fiquei enlouquecida com a carta! Quanta emoção, quanto amor... que mulher de sorte!!!

Lariane disse...

lindo demais...

Kézia Lôbo disse...

Lindo demais..
Da até inveja....
Quero tbm XD

Srta. Camilla disse...

Ah, meninas! Que bom que gostaram!!! ;) Eu sempre penso em vcs ao selecionar essas declarações. Precisamos ler coisas bonitas e românticas, já que escutar de alguém está difícil...

Bjos!