Quando a soltou, e a depositou no chão – não se tinha dado conta de que a levantou no ar – a única coisa que queria era refugiar-se outra vez nos braços do homem. Nem lhe ocorreu esbofeteá-lo por seu atrevimento, pois esse beijo lhe foi extremamente familiar.
- Não lhe direi que lamento - disse o homem, com expressão séria e possessiva. - Espero que não pense que isto é um atrevimento mas sim, por algum motivo que não entendo, senti que tinha direito em beijá-la.
Roseleen sabia por que ela sentia que tinha esse direito, mas, e ele? Era preferível não comentá-lo sequer, portanto, limitou-se a assentir e trocou de assunto:
- Me esqueci de perguntar como terminou a história de amor do seu livro.
O homem riu:
- É obvio, meu herói não pôde ficar no Valhalla. Ali, só era um convidado do irmão, mas esse era um lugar para os mortos e ele ainda estava bem vivo. Então, Odín sentiu pena dele pois, na verdade, tinha o coração destroçado, e lhe permitiu escolher o tempo em que podia viver sua vida. Pode adivinhar que época escolheu.
Roseleen conseguiu sorrir.
- Oh, não sei. Tendo em conta o muito que gostava de brigar, a guerra...
- Mais a amava, Roseleen - disse o homem.
Olhou-a com tanta seriedade, com tal intensidade, que o coração da moça deu um salto.
- Faria algo para recuperá-la, embora tivesse que voltar a viver na época dela e esperar até chegar à idade em que ela o conheceu antes de poder encontrá-la e fazê-la sua outra vez.
- Isso foi o que fez?
- Oh, sim, e lhe pareceu que a espera valeu a pena. Não está de acordo?
Embora o sorriso do Roseleen tenha aparecido com lentidão, foi radiante. Não pensava perguntar-se como aconteceu. Talvez tenha vivido realmente esses sonhos e sua própria vida ficou, de algum jeito, alterada, assim pôde conservar lembranças dele depois de tê-lo afastado, coisa da qual sem dúvida devia ocupar-se Odín. Ou talvez tenha visto antes a este homem e a fantasia da história tinha ficado tão gravada em sua mente que se apaixonou por um sonho porque a enfermidade lhe fez acreditar que era real.
"Se estou de acordo?"
- Na realidade, penso que ela teria que passar o resto de sua vida compensando-o, por ter sido tão tola para acreditar que sabia o que era o melhor para ele.
O breve gesto de assentimento foi dolorosamente familiar:
- É uma opinião feminina. Não está mau. Terei que consultá-la para o final de meu próximo livro. Sorriu-lhe, com os olhos carregados de promessas.
- Entretanto, eu gosto da idéia de que ela o compense.
Roseleen arqueou uma sobrancelha.
- Não é assim como o terminou?
- Não, o fim que eu lhe dava foi bastante brusco. Se encontram outra vez, e ela o convida para jantar.
Roseleen captou a insinuação e riu:
- Falando nisso, você gostaria de vir jantar esta noite... para seguir falando do livro?
- Tome cuidado, Roseleen - advertiu, em tom brincalhão e sério também. - Uma vez que me convide, ficará difícil livrá-la de mim.
Como se quisesse livrar-se dele...! Não voltaria a cometer o mesmo erro, e lhe dirigiu um sorriso que dizia tudo. Tinha recuperado o seu viking, e não pensava perdê-lo outra vez."